segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Cultura: Onde deve investir o Estado?



O Estado, o Estado, o Estado... O Estado isto, o Estado aquilo. Parecem ser essas as "palavra de ordem" de artistas e supostos artistas. Gente com talento e/ou gente sem "cultura" concorrem aos mesmos subsídios.

Comecemos por aí. Que "cultura" é que o Estado deve subsidiar? Para o Bernardo, "hipster" e frequentador assíduo dos bares do Bairro Alto, sem dúvida que deverá apoiar aquele realizador que gosta de fazer filmes mórbidos, que de acordo com as "críticas" culturais mais recentes trazem à tona sentimentos fortes e que reflectem "semioticamente" qualquer coisa como, a fraqueza da condição humana.

Mas aí entra o Sr. Alberto de Odemira e diz "Na, na! Isso né cá cultura. Cultura é o cante alentejano! Mandem mas é o dinheirinho para cá, compadres de Lisboa". Nesta acesa discussão, o Sr. Jorge interpela os restantes "Alto e pára o baile! Então e os pauliteiros de Miranda? Eles não tem dinheiro, porquê?" Aí perdeu-se o controlo. O João queria o "guito" para incentivar as bandas de garagem "hard-metal" portuguesas, a Sofia os espectáculos de Teatro duma companhia qualquer, o Sr. Júlio exigia apoio para o Rancho Folclórico de Paranhos...

Este discurso ficcional, é mais verdadeiro do que se pensa. Não teremos gostos iguais, e para nós, cultura não será o mesmo. Por isso fica a pergunta: porquê deixar que uns burocratas decidam o é ou deixa de ser cultura? Fãs de Hitchcock vejam por vocês o resultado. Por isso, repito a pergunta: a quem atribuiremos os subsídios? "Há dinheiro para todos", dirão uns mais entusiasmados. 

Provavelmente são os mesmos que embarcam nestas "aventuras" de transportes públicos gratuitos. Supondo que não há dinheiro para subsidiar tudo o que todos os portugueses querem, que fazer? Subsidiar os filmes do Bernardo? Mas então e o Cante Alentejano? E os desejos da Sofia?

Por isso digo, o Estado que pare de subsidiar. Que seja dada liberdade às pessoas para escolher onde gastar o seu dinheiro. E que se permita, com isso, que os artistas criem valor acrescentado, como por exemplo sessões de cinema seguidas de tertúlias, exposições inovadoras etc etc. Algo que já vemos em alguns lugares e que parece atrair pessoas e ao mesmo tempo...criar cultura. Mas o princípio é claro: deixemos a pessoa escolher.

Claro que o Estado pode ter um papel indirecto no enriquecimento pessoal da pessoa. A educação é essencial neste aspecto. Não formatar, mas apresentar alternativas culturais, que fossem desde os filmes do Bernardo, aos Pauliteiros de Miranda, passando pelo Rancho de Paranhos. Alternativas essas que só seriam verdadeiras se fosse dada autonomia programática às escolas para incluir as disciplinas que quisessem. Aqui, o famigerado cheque-ensino poderia dar uma mãozinha. Mas isso é um assunto para outra posta...

P.S. Para aqueles que dizem que sem apoios do Estado, o povo ficará apenas a gostar de Casa dos Segredos, faço duas perguntas. 1º) Vocês gostam de Casa dos Segredos? Se sim, entendo o porquê de fazerem esta pergunta. Se não, é sinal que ainda há bons nichos culturais para explorar.

 2º) Foi o Estado que vos pôs a gostar de Tame Impala e rock psicadélico? Foi o Estado que vos pôs gostar de Kandinsky e abstraccionismo? Terão sido os excelentíssimos burocratas do secretariado da Cultura responsáveis por vos incutir gosto pelo nosso artesanato minhoto? Ah! Foram vocês mesmos que ganharam gosto por isso? Ainda bem, é essa a intenção!

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente artigo. Não falta material para publicar uma revista libertária. Vou lendo os vossos artigos aos poucos e vou gostando!

Cumprimentos.

Henrique Figueiredo disse...

Obrigado João.

Continue a ler e a comentar. Já dizia um sábio austríaco que a "liberdade intelectual" é que faz isto andar para frente.

Disponha, comente e, sobretudo, ponha em causa :)

 
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