Enquanto se defende uma aproximação europeia, na forma de uma união política, parece que esta está cada vez mais a afastar-se.
E se, por um momento, pensássemos que são os políticos europeus que estão a tornar esta realidade algo passível de acontecer. E se, políticos bem-intencionados estiverem, através de medidas também bem intencionadas, a gerar desconfiança para com Bruxelas?
Não falo na crise em si e das rivalidades norte-sul que têm sido amplamente debatidas. Estou a focar-me antes em medidas inconscientes que não tem qualquer noção da realidade dos países. Serão, entre outras, uma desejada harmonização fiscal na zona euro (algo já defendido publicamente por alguns eurodeputados), o desejo de um salário mínimo europeu expresso por Jean-Claude Juncker e outras directivas que têm sido passadas, como a questão das quotas para mulheres e demais directivas burocráticas.
O grito do Ipiranga foi dado por Cameron ao agendar um referendo para aferir a vontade dos britânicos de permanecerem na UE. Claro que houve uma parcela grande de estratégia política, pelas pressões internas (no partido) e externas (pela proeminência que o UKIP tem alcançado). Mas é insensato reduzir tudo a isto.
Há, de facto, um grande desconforto quanto à União Europeia e um apoio crescente a países que advogam a saída desta comunidade. Já em 2004 (a crise era só uma miragem) 45% dos entrevistados numa sondagem em Londres admitiam poder vir a votar em dois partidos mais nacionalistas/eurocépticos, o British National Party e o UK Independence Party.
E desengane-se quem pensa que isto é apenas uma realidade da Inglaterra que, poderemos dizer, nunca se sentiu à vontade na UE. Não, o nacionalismo e o eurocepticismo têm ganho espaço em diferentes países europeus. Nunca é demais lembrar que o resgate português esteve bloqueado por um partido cada vez mais proeminente na Finlândia, os "Verdadeiros Finlandeses". Ou que os nacionalistas já chegaram a formar governo, como foi o caso do Party for Freedom de Geert Wilders na Holanda, ou o também Partido da Liberdade, que chegou a integrar uma coligação no governo austríaco.
Não só no Norte se tem observado este fenómeno.Também nos países do Sul (e intermédios) o nacionalismo e a descrença na UE (que é uma entre outras bandeiras) se fazem sentir. Em França temos a Frente Nacional com 20% dos votos, em Itália o movimento populista "5 estrelas" que, estando na segundo posição nas intenções de voto exige um referendo semelhante ao que foi prometido por Cameron. Mesmo na Grécia pré-crise e pré-Aurora Dourada, um partido de extrema-direita (o LAOS) chegou a integrar o governo.
Por isso, e tendo em conta este cenário geral, devemos perguntar-nos: que fazer? Devemos pôr a união política à frente dos desejos dos europeus? Quererão os ingleses, os italianos, os holandeses, os gregos e companhia uma Europa Federal? Dou o braço a torcer e digo que já almejei essa finalidade. Mas, se reflectirmos, vemos que nem todos os países estão para aí virados. Ingleses talvez sejam o exemplo mais proeminente, mas e os irlandeses que chumbaram o Tratado de Lisboa?
P.s. Por isso, antes de pensarmos em democratizar a UE, devíamos pensar primeiro: todos os membros querem realmente unir-se politicamente? Se não, que fazer? Uma solução middle-of-the-road, como um sistema confederado? Fica a ideia de mais um debate (ao bom estilo português!).