Refundar. A palavra usada por Passos Coelho usada para
definir o memorando é vaga e não admite muitas esperanças para os adeptos da
renegociação. Mas é de notar uma mudança no discurso. De “ir além da troika”
para a necessidade de “refundar” o memorando.
Isto leva-nos a pensar: terá Passos olhado para trás e
pensado que este caminho estava a ser contraproducente? Que sim, o défice tem
que ser eliminado (ou pelo menos reduzido significativamente), mas não pode sê-lo
à custa do consenso social? Era óbvio que Passos precisava de por um travão à
contestação.
Mas se Passos não admite negociações, já que se quer ver
livre da Troika em 2014, o que quer dizer por refundar? Admitirá mudanças no
Orçamento de Estado? Diminuirá, de certa forma, a carga fiscal? Passos sabe que
não estamos num momento rotineiro da vida política. A população está atenta a
cada palavra que sai da boca do primeiro-ministro e está prestes a cobrar-lhe
por cada desvio.
Passos ao escolher a palavra refundar, pretendeu usar algo
soft, que não o comprometesse inteiramente. Mas, e como já disse acima, a
altura não está para meias-palavras. As pessoas/eleitores interpretarão
refundar como um alívio dos sacrifícios e, se isso não suceder, apenas atiçará
mais a contestação de rua. Passos pode ter dado mais uma munição àqueles que o
querem ver destituído.
Por isso, Passos agora encontra-se frente a (mais um)
dilema. Não basta, para diminuir o fervor da água deitar para dentro da panela
um copo de água morna. Será preciso diminuir um pouco a intensidade do lume.
Como é que o vai fazer? Passos não adiantou. Aguardemos novidades.
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