quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Media: Estamos entregues aos bichos




Há uma série que toda a gente devia ver. Chama-se “Newsroom” e trata de um pivot televisivo que, depois de ter apresentado um noticiário pouco incómodo para o poder instalado, decidiu começar a mostrar as notícias como elas deveriam ser. Duras e cruas. Doa a quem doer e sem ser serviçal do poder. “Fighting the good fight”, é o lema. E mais, o sr. Will McAvoy, o tal pivot, dizia uma frase que todos, sem excepção, deviam reter. “Não há nada melhor para uma democracia, que um eleitorado bem informado”. Nada mais verdadeiro, não é?

Claro que falo de uma série ficcional. Na realidade as coisas não se passam bem assim. Há pressões e lobbies do poder político e económico. É verdade que o watchdog teorizado pelos estudiosos dos media, por vezes torna-se num cocker mansinho e subserviente. Mas, a história mostra-nos a importância de um jornalismo independente. Toda a gente conhece o caso Watergate ou as investigações jornalísticas que decorriam aquando da guerra do Vietname. A verdade é que ainda há Will McAvoy´s pelo mundo fora, mas com os media transformados num negócio cuja intenção é lucrar, estão em vias de extinção.

Falo disto a propósito do despedimento colectivo que houve no jornal Público. Não é algo recente e que me tenha surpreendido. Todos sabemos que o negócio dos media vai mal em Portugal (e não só). Há pouca gente a ler jornais, principalmente os de referência. As respostas ao porquê deste fenómeno acontecer podem ser várias mas, na minha opinião, tudo se resume a uma simples premissa: somos um povo acomodado e com pouco sentido crítico. A culpa não será nossa, mas sim da nossa educação. Com educação não falo no canudo que possuímos ou deixamos de possuir. É falacioso pensar assim. Refiro-me à participação cívica deficitária que caracteriza a nossa sociedade.

Cortar naquilo que ainda nos dá algum alento civilizacional – uma imprensa independente, crítica e escrutinadora – é um retrocesso inquestionável. Para aqueles que não conseguem pensar além da perspectiva economicista, digo que, um povo mal informado não sabe a quantas anda. E um povo pouco escrutinador endivida-se. Um povo pouco informado não sabe fazer contas. E um povo assim não paga dívidas. Até ser afogado por elas.

Em boa verdade, a comunicação social é um negócio aparte. Acho que nem lhe deveríamos chamar negócio. A expressão “Quarto Poder”, que é como são tratados os media, diz tudo. Os media, que têm como core business a informação, não deveria ter como pano de fundo, exclusivamente o lucro.

Sim, o Estado poderia dar uma “ajuda” aos media. Não subsidiando directamente mas, por exemplo, darem regalias fiscais aos seus mecenas e mesmo apoiando o jornal reduzindo, por exemplo, o IVA. Uma proposta que, certamente, agradaria aos liberais que pululam por este país fora.

Uma coisa é certa, é perigoso tratar a informação como um negócio. Submetendo a comunicação social à ditadura do lucro, nada nos restará a não ser a imprensa sensacionalista. A sociedade tornar-se-á mais acéfala e, como se sabe, não há nada mais perigoso que um povo não pensante. A continuar neste rumo caminhamos para um fim incerto. A verdade é só uma: estamos entregues aos bichos.

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