O príncipe que lutava contra o dragão para salvar a sua bela adormecida morreu. O sonho do amor eterno que fazia pulsar o coração feminino sustentado por um cavalheiro servil - que se curvava diante da sua deusa e proferia palavras de amor - entrou em declínio. E porquê?
Os sociólogos afirmam que vivemos numa época onde o culto de relacionamentos apaixonados promove a falta de responsabilidade diante das crises naturais de toda e qualquer relação; homens e mulheres queixam-se da banalização do sexo e dos encontros – que raramente acontecem – mas que tanto anseiam; e o número de divórcios cresceu exponencialmente – apontando as tendências para um aumento contínuo.
Vivemos num período conturbado, é certo, mas tudo isso é fruto do natural desenvolvimento do ser humano. Para compreender todo esse desencontro amoroso é necessário atender às mudanças sociais e culturais e aos novos desafios e paradigmas que os relacionamentos enfrentam.
Se no passado era necessário um verdadeiro ritual até o homem ousar aproximar-se da mulher, tocá-la e, muito depois, conseguir o primeiro beijo, actualmente a velocidade e a forma de se relacionar estão completamente alteradas.
Com a maior independência das mulheres, a quebra de tabus e preconceitos e o advento da internet verificou-se uma completa mudança comportamental na sociedade em torno do que antes era tão trabalhoso.
Pode-se argumentar que outrora as pessoas procuravam conhecer-se antes de assumir um relacionamento e que agora as coisas se perverteram, assumindo as relações uma velocidade tal que a sua superficialidade aumentou exponencialmente.
Mas como inverter este padrão quando conhecer um novo parceiro está hoje à distância de um clique e namorar à distância de uma sms?
Se as relações hoje estão mais vulneráveis e mais egoístas, estão também mais transparentes.
Certos aspectos da personalidade que antes ficavam ocultos podem agora emergir sem receios, já não há a obrigação moral de reger os relacionamentos por estereótipos e os “casamentos por encomenda” são raros. Pode-se afirmar que as relações modernas transpiram mais individualidade.
Então, o novo conceito de “Alma Gémea” pode ser o de duas individualidades que partilham afinidades e estabelecem uma relação de respeito, cumplicidade e intimidade mútua. Algo bastante diferente da típica rigidez e subserviência dos relacionamentos do passado.
É inútil tentar preservar um status quo quando este não é aplicável à nossa realidade. O individualismo deve ser, com os seus prós e contras, a questão-chave a ser trabalhada nos relacionamentos modernos.
Por tudo isto, volto a dizer: O príncipe que lutava contra o dragão para salvar sua bela adormecida morreu. A história terá de ser reescrita para incluir elementos como as redes sociais ou a emancipação da mulher, e condicionantes como a preponderância dos objectivos profissionais, a rotatividade nos relacionamentos, os desencontros amorosos e a procura da individualidade nas relações.
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