Os projectos de uma europa unida não são de agora. Remontam aos tempos do Império Romano e mesmo, de forma mais limitada, aos tempos de Carlos Magno, através do seu Sacro Império Romano Germânico. É verdade que todas estas formas de “federalismo” falharam, soçobrando face a diferentes tipos de nacionalismos.
Os tempos que vivemos são diferentes. Enfrentamos um fenómeno chamado globalização. Não vale a pena fechar os olhos e fingir que não existe. Querer que a globalização não afecte o nosso pequeno “mundinho” não passa de um wishful thinking.
Mas façamos uma análise crua, do ponto de vista geopolítico. A Europa vive rodeada de blocos económicos. A leste temos a China, a Rússia e a India. A Oeste as federações brasileiras e norte-americanas (o Brasil e os EUA, claro). Os números são claros: Passe-se os olhos pela lista dos maiores países do mundo em termos físicos. O maior Estado da UE, a França, fica em 43º lugar. A Rússia, indiscutível número um do “ranking”, é mais de 26 vezes maior que ela. Tanto a China como os EUA são 15 vezes maiores. Agora olhe-se para a lista de países ordenada por população. A Alemanha, o país mais populoso da UE, fica em 16º. A China, a mais populosa do mundo, tem um número de habitantes mais de 16 vezes maior. A Índia tem cerca de 15 vezes mais pessoas. Se a UE fosse considerada um país, seria o sétimo na lista dos maiores países e terceiro em tamanho da população. E, como os funcionários de Bruxelas nunca se cansam de repetir, o primeiro na lista das maiores economias.
Se, no que toca à sujidade, o algodão não engana, aqui os números também não. Mas há algo que transcende a crueza aritmética. Europeísmos à parte, a Europa é especial. Aqui se fundou, o chamado Estado Social e aqui ele atingiu o seu auge. Na Europa atingem-se graus de desenvolvimento económico que só tem paralelo no outro lado do Atlântico (EUA). Isto apenas no nível económico. Algo que depois se reflecte no contexto da emigração. De certa forma, houve uma substituição do “sonho americano” pelo “sonho europeu”.
Importa pois defender esta Europa. E de certa forma, em tempos de globalização, isto passa por um federalismo europeu. É importante que, nos órgãos internacionais (Banco Mundial, FMI, ONU etc…) a Europa fale a uma só voz. Caso contrário, somos alvos fáceis de ataques especulativos predatórios. Um exemplo foi o que se passou, face à crise dos subprime quando Angela Merkel preferiu que cada país respondesse individualmente (The first step was taken by Germany when, after the bankruptcy of Lehman Brothers, Angela Merkel declared that the virtual guarantee extended to other financial institutions should come from each country acting separately, not by Europe acting jointly).
Voltando aos tempos do Império Romano, é bom recordar a analogia que Henrique Monteiro, cronista do Expresso, fez há algum tempo. Roma caiu face à pressão bárbara nas suas fronteiras. A UE precisa de se unir face à pressão “bárbara” vindas da mão-de-obra barata e sem direitos usada pelos países emergentes. Só unida o conseguirá. Os nacionalismos levam-nos a caminhos onde sempre levaram. A maioria das guerras europeias, desde a dos 100 anos até à II Guerra Mundial, tiveram por base pressupostos nacionalistas. O maior período de paz coincidiu com a instituição da EU. Quereremos destruir tudo isto?
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