quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Troika: O que nos espera a nós e à Europa




Chegaram, no início da semana, os três senhores que avaliarão o desempenho da nossa pequena e mui esforçada economia periférica. Em cima da mesa, mais do que as metas a ser alcançadas está o sucesso do programa em si. Face a um descalabro no défice e a uma queda abrupta nas receitas, o Governo está entre a espada e a parede. Mais do que nunca dependemos da boa vontade (ou do bom senso) dos homens de negro.

A verdade é crua e os indicadores económicos demonstram-no: os limites do défice não vão ser respeitados, a receita cai mais do que o esperado e o desemprego, verdadeira besta negra deste governo, não para de aumentar. O governo prefere focar-se no corte “histórico” na despesa e na baixa das taxas de juro. Como se a primeira variante não tivesse sido feita à custa do corte nos subsídios e a segunda não fosse ainda algo “trémula”. Sim, porque com a Espanha perto de pedir um resgate total será difícil a Portugal manter o seu status. Para além disso, apenas 2% da nossa dívida está em mãos estrangeiras. A restante encontra-se com a pouca fiável banca portuguesa.

Depois e continuando na senda dos factores macroeconómicos há a questão do mercado interno. Apostando na “competitividade” externa da economia, a troika e quem a suporta parece ter-se esquecido desta variável. Se mais de 90% das PME´s estão dependentes do consumo interno, que podemos nós esperar do evoluir da nossa economia? A bancarrota já será “passado” ou estaremos a adiar a questão? Uma política estritamente mercantilista, com laivos de Coulbertianismo, será eficaz? Imaginemos que começa a ser praticada por toda a Europa (sem falar no mundo). A guerra comercial deitaria por terra todo o projecto exportador que é a bandeira governamental. Sim, porque ninguém dá nada a ninguém. Dizia Milton Friedman: “Não há almoços grátis”.

Agora, politicamente, o que podemos nós esperar deste memorando? Apesar de a troika admitir suavizar o défice, todos sabemos que é apenas uma “disposição” pontual. Dificilmente o governo não terá de se adoptar mais medidas de austeridade. Resta saber se se traduzirá num aumento de impostos, ou num corte de subsídios que abrangerá tanto sector público como privado. E aqui se divide a então pétrea coligação. Paulo Portas, já fez ver que não concorda nem com a primeira, nem com a segunda medida. Está aberto o caminho para uma crise nos partidos do arco do poder? Cheira a crise política?

Finalmente, e como dependemos mais de condições externa do que internas, temos um mês em pleno. Desde o epílogo do caso grego, à reunião do conselho de governadores do BCE (onde será decidido – ou adiado – o uso do seu, mais que pertinente, poder de fogo), passando pela decisão do Tribunal Constitucional alemão sobre o futuro do maior financiador de resgates, o MEEF. Tudo isto, juntando às eleições holandesas (onde o eurocépticismo é crescente), torna este mês decisivo.

Diz João César das Neves, que este não será o fim da Europa. Apesar de ser um texto carregado de cepticismo quanto ao plano europeu. O economista relembra e bem crises anteriores. Será o actual problema da dívida mais ameaçador que o veto de De Gaulle em 1963 ou o "rebate" de Thatcher em 1984? Será mais sério que a crise do petróleo de 1973 ou do sistema monetário europeu em 1993? Mais influente que as sanções contra a Áustria em 2000, o desacordo na invasão do Iraque em 2003 ou a rejeição da Constituição em 2005? Em todos estes momentos, e muitos outros, se falou do fim da Europa. Sim, o processo de integração, como qualquer outro pode ser doloroso, como qualquer outro na história (vejam-se as trocas de baldrocas que a Alemanha fez até se tornar una, como é hoje). Mas tem tudo para dar certo. Falta vontade.

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