domingo, 26 de agosto de 2012

Ser Hipster é mainstream




O termo "Hipster" é já parte do léxico de várias culturas e é frequentemente usado, embora quase ninguém saiba exactamente o seu significado. O mercado já o descobriu e está a tirar proveito. Para descortinar o que está por detrás deste recente fenómeno cultural e perceber quem são os seus actores, faço uma pequena análise à cultura Hipster.

O que é?

Uma definição não estereotipada pode definir os Hipsters como uma tribo urbana, tipicamente de jovens entre os 20 e os 30 anos, que rejeita o pensamento massificado e a generalização de produtos ou gostos culturais e que valoriza o pensamento independente, a contra-cultura, o progressismo político, a arte e a criatividade.

No entanto, o termo Hipster surgiu no período pós-Segunda Guerra Mundial para classificar uma geração de jovens americanos pessimistas que procuravam respostas no existencialismo francês, no niilismo de Spengler, Nietszche e Dostoievski, e encontravam nas drogas, no Jazz e nos becos das cidades, entre vagabundos e prostitutas, um estilo de vida acessível em tempos tão sombrios.

Actualmente a realidade é bem diferente, mantendo-se, no entanto, o culto do cinema, literatura e música independente, da moda vintage e retro, e a procura por ter ou conhecer as coisas em primeira mão, bem antes destas serem rotuladas de "mainstream", assumindo-se como "early adopter" de produtos e de gostos e descartando tudo o que está na moda.

Constata-se, também, que a nova geração é polida e educada, maioritariamente proveniente da classe média e com formação superior, e é culturalmente interessada e com sentido estético.

O paradoxo:

Mas esta nova geração sentenciou a cultura a reduzir-se a um estereótipo, levo à sua banalização e ao uso depreciativo do termo Hipster.

Hoje referimo-nos aos Hipsters como o termo significante de ilusão de superioridade cultural, de cristalização de um estereótipo massificado e "marketizado" do consumidor da cultura independente.

A isto levou uma adopção da cultura para a sua simples exteriorização, antes de comungar da sua verdadeira  essência. Basta analisar os «Passos para se tornar um Hipster» para a materialização máxima dessa realidade.

O outrora considerado alternativo e o incomum, está agora popularizado. Os pretensos Hipsters banalizaram-no.

A conclusão: 

Os marketeers, sempre atentos às novas tendências, inverteram as regras. Começaram a produzir produtos aos quais os Hipster se vão moldando. Por procurarem o non-mainstream, estes jovens estão dispostos a pagar um preço mais elevado por um produto que se revele exclusivo.

Tendo em conta o seu poder de compra os Hipsters mostram ser um nicho de mercado muito rentável. O mercado agradece.

1 comentários:

Sandra Alves disse...

Haverá coisa menos hipster do que um guia para ser hipster?? Mainstream it is indeed. A pressão da viver numa sociedade de consumo e as regras ditadas pelo marketing e pela publicidade são tão poderosas que os hipster de ontem se vão gradualmente transformando no homem-massa do amanhã. Ironias dos tempos modernos.

 
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