quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Privatização da RTP: Que futuro para o serviço público?





São bastantes as notícias que dão como “privatizável” a RTP2, deixando sob alçada pública o primeiro canal. Alienando-se a RTP2 que, como todos sabem, é a maior responsável pelo verdadeiro serviço público de qualidade, ficamos com uma RTP1, pejada de programas de serviço público questionável. Falo por exemplo, d os programas matutinos, transmitidos pela estação pouco se aproveita. Vemos claro, certas partes desses programas que são de facto pedagógicos (falo por exemplo de algumas das crónicas do Dr. Pinto da Costa), mas, na sua maioria, o conteúdo aproveitável é nulo.
A TV pública não se deve equiparar estruturalmente à privada. A segunda persegue, muitas vezes, objectivos economicistas, sendo que a qualidade dos programas sai, muitas vezes, a perder. A RTP deve pensar mais além. Paga pelos contribuintes o objectivo terá de ser servi-los. E isso tem que ser feito com qualidade, através de programas pedagógicos, cinema, música, debate político diversificado etc.
Por isso, se de facto se privatizar a RTP2, é premente restruturar o canal que fica sob domínio público. Algum do conteúdo da RTP2 deve ser absorvido e inserido na nova programação, sendo que alguns dos programas que referi atrás devem ver o seu orçamento reduzido. Já que estamos numa de retórica economicista, não viria mal ao mundo se os ordenados de certos apresentadores fossem reduzidos. Poderiam eles fazer “birra” e ir para o privado? Poder podiam. Mas eu, vindo do mundo da comunicação, conheço bastantes jovens que não se importariam de fazer aquele trabalho. Mesmo que não fossem pagos com aqueles salários principescos.
Quanto à questão da publicidade julgo que, o canal público, deveria evitar ao máximo tê-la. Outra vez por uma razão economicista, a que se junta uma de índole ética. A primeira tem que ver com o mercado publicitário. Em Portugal, este já está completamente congestionado. Uma outra TV privada apenas vai contribuir para saturar ainda mais o mercado (o próprio eurodeputado Diogo Feio do CDS o admite). Em segundo lugar, por uma questão ética, sendo que num canal de serviço público não deve ser dado espaço a publicidade privada. Com tal, a existir publicidade esta seria apenas e só institucional.
Em suma, nos tempos que correm, é importante reflectir sobre o que queremos para serviço público. É importante uma análise da programação séria e ponderada. Numa altura em que se fala tanto em ataques à cultura portuguesa, porque não a instituição de quotas ainda mais alargadas de produtos portugueses (deixando as novelas para os privados), neste canal público. Uma personagem histórica, indubitavelmente polémica, Vladimir Lenine dizia que se há sector onde não deve haver poupanças, esse é a educação. E uma TV que faz um serviço público de qualidade, assente no pluralismo de vozes, contribui de forma decisiva para a educação da população. A recuperação económica vem logo a seguir.

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