terça-feira, 21 de agosto de 2012

Angola domina os media portugueses


Basta olhar para a estrutura acionista da comunicação social em Portugal para constatar a crescente concentração dos media portugueses na mãos de investidores angolanos, isto é, do núcleo duro ligado a José Eduardo dos Santos.

Este facto não é novidade para os mais atentos. No entanto, e tendo em conta a notícia do jornal Público acerca das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre esta matéria, pude perceber que os portugueses ainda não se consciencializaram dos graves contornos que esta realidade tem.

Para descortinar um pouco deste domínio angolano basta fazer uma pesquisa nos jornais e blogues de referência, pois facilmente se encontram as informações que suportam este artigo.

(…)

Mas Marcelo tinha já abordado o assunto, dessa feita superficialmente, facto que Estrela Serrano comentou também: O professor Marcelo constatou mas não concluiu…

Constata-se, portanto, que a temática não é recente. Recordemo-nos então da apelidada "operação de limpeza" de vozes críticas da corrupção em Angola na informação pública aquando do aumento dos negócios em Portugal por parte das figuras mais chegadas ao círculo de Eduardo dos Santos. Vários jornalistas foram despedidos, vários comentadores silenciados.

No topo dos grupos responsáveis pelas aquisições está Newshold. Este tem sido um dos mais ativos a fazer crescer a sua influência na estrutura acionista da comunicação social em Portugal.

Em 2010, a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) solicitou informações sobre as principais estruturas acionistas e, no caso do SOL, o regulador conseguiu apenas apurar que a Newshold é detida pela Pineview Overseas, uma empresa com sede no offshore do Panamá e com um capital social de dez mil dólares.

Em Portugal, a empresa é representada pela advogada Ana Oliveira Bruno (sim, a alegada sócia de Michel Canals), que preside à sociedade proprietária do semanário Sol e representa outras sociedades offshore (refugiadas em paraísos fiscais, claro).

Expresso [Caderno de Economia] - 12.05.2012:
Numa só semana desembolsou cerca de €90 milhões para reforçar as suas posições no BPI e na ZON. “ (…)” um reforço para 19,4% no BPI e 15% na ZON…”
(...)
“No sector dos média a presença angolana tem crescido de forma evidente. E sustentada. Desde 2009, o grupo Newshold já assumiu 96% do semanário “Sol”. Tornou-se o maior acionista individual do grupo Cofina – proprietário do “Correio da Manhã”, “Sábado”, “Record” ou “Jornal de Negócios” – com uma participação de 15%. E adquiriu uma participação inferior a 2% no grupo Impresa, dono do Expresso e da SIC.


Não esquecer os compradores mistério, ainda na Impresa, quando esta disparou 31% na Bolsa. [Diário Económico - 10.01.12: Angolanos da Newshold poderão terreforçado]

Mas ainda no Expresso - 12.05.2012:
“Acresce ainda, em pano de fundo, a privatização da RTP, apontada no mercado como alvo preferencial das movimentações angolanas para a criação de um grupo de imprensa mais ‘musculado’ em Portugal.”

Oportunamente, falando da privatização da RTP e dos interesses do grupo angolano, eis que surgem as seguintes notícias:

“Mário Ramires, ex-subdirector do Sol e um dos fundadores, passou a integrar em Novembro último a administração da Newshold, transferência justificada “pelo interesse, já tornado público” pelo grupo “noutros projectos de comunicação social”.”  [Meios & Publicidade – 25.01.2012]

Estranhamente oportuna esta contratação aquando do conhecido interesse na estação pública, não é verdade? Mas suspeita-se ainda, e tal como referiu o professor Marcelo, que a Newshold esteja envolvida no jornal "i".

Surge agora um outro player angolano – Score Media. Antes de explorar os negócios este que tem feito em Portugal, apenas uma ‘inocente’ informação:


Adiante: Segundo o Expresso, Joaquim Oliveira, proprietário do DN, JN, O Jogo e TSF, estaria numa fase avançada de negociações para vender participações destes meios à Score Media, proprietária do semanário económico angolano “Expansão” e da revista “Estratégia”, não tendo sido ainda avançada qualquer informação a este respeito.

"O empresário Joaquim Oliveira, dono do grupo Controlinveste, está a negociar a venda de uma participação na empresa a um grupo de investidores angolanos. Segundo informações recolhidas pelo Expresso, as conversações visam a alienação de uma posição minoritária apenas na Global Notícias Publicações S.A., dona do “DN” e do “JN”.
Ativos como a Sporttv e a TSF não serão abrangidos. Rolando Oliveira, administrador da empresa, nega a existência de conversações, mas o Expresso sabe que o acordo poderá ficar fechado nas próximas semanas.”


Sendo escusado qualquer comentário, basta deixar-vos para perceberem as ligações que estes grupos angolanos têm vindo a estabelecer:

RTP – 27.01.2009:


Público - 01.04.2010


Jornal de Negócios – 29.05.2012:


Jornal de Negócios – 13.07.2012:


Jornal de Negócios – 7.09.2012:


Visão – 7.12.2011:
(…)


Muito mais há para ser dito, mas muito mais há para ser revelado pelos verdadeiros protagonistas desta rede de influências que ameaçam o futuro da comunicação social em Portugal. Não é só aos profissionais da área que isto interessa, esta é uma questão de garantia da democracia e da pluralidade, diria mesmo da soberania.

Espero que algo seja feito. Que isto não termine numa ascenção accionista por parte de Isabel dos Santos, Manuel Vicente ou Kopelipa.

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